Texto #5 - A palavra

agora não é um espaço, mas um ponto focal, um temor, uma raiva de tudo.
eu não tinha um plano claro. não esperava chegar nesse ponto.
não quero me repetir... já que o mesmo pode ser dito de várias maneiras, todas mais cansativas do que o necessário.
mas não consigo ser mais objetivo.
a questão é que a escolha de cada palavra é um martírio pra mim.
então às vezes me parece que era melhor se eu simplesmente deixasse a palavra aparecer.
mas o que fiz foi me confundir com cada símbolo. entendi errado o que significava essa ou aquela palavra
e fiquei preso entre o papel e a intenção.
daí decidi que eu ia tentar um momento de poeta surrealista.
escrevendo em estado de vigília,deixando cada palavra livre pra seguir seu fluxo.
mas quando encontrei um estado ideal e escrevia em momento de quase sonho, deixei escapar uma palavra pro outro lado. pro lado avesso ao meu.
e, talvez não por acaso, era aquela palavra a única que eu não conseguia substituir.
depois disso voltei várias vezes em busca dessa palavra, tentando reproduzir aquele primeiro momento. mas nunca era ela que eu via.
procurei por duas, quatro, seis noites. até que desisti.
um dia, cansado da rotina de sempre, cochilei sentado no ônibus.
e vi a palavra, aquela palavra, a única que me interessa.
corri pra acordar logo e me assustei em procurar algo pra escrever.
mas o ônibus parou bruscamente e uma senhora esbarrou em mim e me disse algo que não entendi.
foi o suficiente. perdi de novo aquele momento único.
escrevo agora meio que dormindo, esperando por um milagre que certamente não vai mais acontecer.
será melhor assim?

Marcos Ramon
Brasília, 16.04.2012

Comentários

Marcinha disse…
quando a palavra não consegue dança esse sentir.