o contrabaixo

patrick süskind ficou famoso no mundo inteiro com o livro "o perfume", que conta a história de um assassino com olfato superdesenvolvido em busca do perfume perfeito. li esse livro quando estava no ensino médio. alguém descobriu e de repente todo mundo lia. eu não fui diferente. e o livro é muito bom! me impressionei na época com as descrições que me faziam sentir os mais diversos cheiros, dos bons aos ruins.
depois li dele um outro livro, também muito bom, chamado "a pomba". nesse livro o embate se dá entre um homem que só queria ter uma vida simples, mas que se vê atormentado quando uma pomba aparece no quarto em que ele vive.
até onde eu sabia esses eram os dois únicos livros que patrick süskind havia publicado. até que gisele viajou para brasília em 2004 e me trouxe "o contrabaixo", o terceiro livro dele, um monólogo para teatro. li rapidinho. não só porque fala de contrabaixo, mas porque realmente é muito bom. essa peça foi encenada em 1987 com antônio abujamra. deve ter sido fantástico.
a peça é sobre um contrabaixista, funcionário público da orquestra, conversando sobre o instrumento e sobre sua paixão por uma mezzosoprano. é um livro sobre amor e sobre trabalho. no mínimo, curioso.
logo mo início do texto o contrabaixista deixa clara sua visão sobre o seu instrumento: "... o contrabaixo é, de longe, simplesmente o instrumento mais imporante da orquestra. e as pessoas não reconhecem isso nele".
mas o que possibilita a ele afirmar que o contrabaixo é o instrumento mais importante se as pessoas praticamente não escutam o som desse instrumento? nas bandas de rock se dá mais atenção para as guitarras. nas orquestras para os violinos. será o contrabaixo realmente mais importante? o contrabaixo
a idéia dele é que o contrabaixo é a base em que se sustenta toda a orquestra. tirando os violinos ainda teríamos algo audível, mas tirando os baixos não. o edificio todo iria desmoronar:
"...como sou músico eu sei qual é o chão em que eu estou pisando; a mãe-terra, onde todos nós estamos enraizados; a fonte de energia, de onde todo pensamento musical se alimenta".
é interessante como esta afirmação se aproxima da compreensão de schopenhauer sobre a música. afirma o filósofo alemão na obra "metafísica do belo":
"... o baixo contínuo é, na harmonia, o que no mundo é a natureza inorgânica, a massa mais bruta, sobre a qual tudo se assenta e a partir da qual tudo se eleva e desenvolve".
de acordo com schopenhauer é possível uma analogia entre a música e a organização do universo e do próprio mundo. por isso só a música pode nos elevar ao contato com a coisa-em-si, com a essência mesma do mundo e nossa, a vontade.
no entanto, se o baixo simboliza o reino inorgânico é bem claro que estamos num ambiente bruto e existem sons mais elevados, que representam os reinos vegetal e animal.
o contrabaixista de süskind reconhecia essa característica arcaica do baixo, afirmando que apesar de ser o instrumento mais importante em qualquer composição, o baixo sozinho não pode muita coisa. o seu som quase não é som, "é mais um arranhão, algo, como é que eu posso dizer, algo forçado, que vibra mais do que soa".
ou seja, o baixo é importantíssimo, mas o que ele transmite ninguém escuta e nem pode ter destaque.
tenho que discordar um pouco disso. apesar de não ser eu a demonstrar que ele está errado. gosto do som do baixo e acho ele bonito. e só.
:marcos ramon

Comentários

Anônimo disse…
a gisele sempre achou que esse livro era pra ser teu.
Anônimo disse…
o baixo é o pulso, o coração. na capoeira também é assim. tem 3 berimbaus, o gunga (grave), o médio ou berimbau propriamente dito e a viola (agudo). o gunga dificilmente vira, enquanto a viola se estabelece sobre as viradas e contratempos permitidos pelo gunga em diálogo com o médio, que faz um campo de nuances, ligando o gunga e a viola.
Anônimo disse…
rapaz, quando li aí no texto mezzosoprano, lembrei, putaria, dum texto que li hoje sobre o disco do instrumental pixinguinha n'o estado do maranhão (de hoje): lá destacava-se que alguém (não lembro quem, agora) tocava "saxoprano" (sic).
estou com um exemplar capa dura do círculo do livro, emprestado, de "o perfume", há tempos. vou ver se dou atenção, a partir desta "recomendação". abraço!