o que resta da arte

nietzsche, no §222 de "humano, demasiado humano", apresenta a discussão em torno do valor da arte. nietzsche faz uma crítica ao modo metafísico de encarar a arte, uma herança platônica. de acordo com platão a arte é imitação do sensível e o sensível é algo inferior, uma ilusão que nos distancia da verdade e do acesso às idéias puras. o problema desta postura é que ela vê na arte um apego à vida, ou seja, um apego a tudo aquilo que é efêmero. assim, a arte não serve como fonte de conhecimento, a não ser que a artista consiga, de alguma forma, nos aproximar do eterno. isso acontece, segundo platão, com mais propriedade na música, dentre todas as artes a mais abstrata. nas outras artes, em que o teor de imitação é muito grande, o acesso ao eterno é quase impossível. pintura de egon schiele
nietzsche discorda completamente de platão, mas foi essa visão metafísica que prevaleceu (não só na arte, obviamente). e então, o que resta da arte?
segundo nietzsche, "durante milênios ela (a arte) ensinou a considerar com interesse e prazer a vida sob todas as suas formas e a levar tão longe nossa sensibilidade que finalmente exclamamos: 'seja o que for a vida, ela é boa'". ora, para nietzsche a arte é, e deve continuar sendo, um impulso para a vida. daí também seu retraimento diante do cristianismo de wagner e do pessimismo negativo de schopenhauer.
o texto de nietzsche nos mostra que a arte pode até deixar de acontecer como manifestação dionisíaca, mas ainda assim não esqueceremos o nosso impulso para a vida. "poder-se-ia renunciar à arte, não se perderia com isso a capacidade aprendida com ela".
a vida prevalece, mesmo que a arte morra, é o ensinamento de nietzsche.
:marcos ramon

Comentários

Anônimo disse…
eu falo demais...mas nietzsche e platão estão na poeira e a arte eterna está também (ou passa em alguns momentos) no efêmero dos ônibus passando sem parar nas paradas, cheios de gente, cada um num devaneio...mesmo se a arte virar coca-cola, numa 'inferioridade' em relação à mona áspera, ainda assim a arte merece viver em nós, falar através de nossas vozes desafinadas em busca não da perfeição, mas do sentimento que se expressa...o equilíbrio é importante mais que a força sobre os conceitos. a vida é boa e viver é dar-se em tradução pelos canais possíveis da alma, sempre. não é preciso uma ruptura entre matéria e espírito ou transcendência da matéria ou do espírito. tanto os indus quanto os capitalistas exageraram, mas seilá...